Triatleta paranaense busca superação e realiza prova com o filho deficiente
José Rosa das Neves, de 46 anos, puxa o filho em um bote durante a natação e empurra a cadeira de rodas durante os cinco quilômetros da corrida
O triatlo em si já é movido por pessoas que buscam uma superação a mais, cansadas pela rotina de uma mesma modalidade. Mesmo assim é possível achar bons exemplos de atletas que querem algo a mais. Cansado de disputar as provas sozinho, José Rosa das Neves, de 46 anos, até chegou a diminuir a frequência dos treinamentos.
Só que a força para seguir em frente e fazer algo diferente para ele veio da própria casa: o filho Elkier, de 21 anos. Deficiente físico, o garoto depende de uma cadeira de rodas para se deslocar, além da ajuda integral dos pais e familiares. Diferente do pai, ele nunca sentiu a capacidade de ser desafiado por uma prova de triatlo, por causa de uma má formação dos ossos desde a gestação.
Assim que surgiu a ideia para Neves mudar um pouco a rotina, deixar de correr contra o relógio e dar uma alegria a mais para o filho. Um dos poucos momentos que José e Elkier não compartilhavam era o momento das provas ou treinamentos. Durante o Sesc Triatlo Caiobá, realizado no último domingo em Matinhos, Neves acabou com o vazio e proporcionou um momento único para o menino.
Com a ajuda dos familiares e da organização, Neves – como é conhecido no mundo do triatlo – fez os 750 metros de natação com uma corda pendurada no punho ligada ao bote. De dentro, Elkier admirou a paisagem do mar da Praia Mansa, observou a disputa dos atletas na água e se empolgou com a nova experiência.
– Eu sempre deixava ele em casa para fazer a prova. Mas eu vi que isso já estava sem sentindo. Eu resolvi fazer a prova com ele, já que estou sempre com ele, faz parte da nossa rotina. Levantar de manhã, dar banho, trocar fralda, dar almoço, levar ele para a escola. Enquanto ele ia para a escola, eu sempre treinava, mas para correr não tem motivo para não trazer ele. Ele foi a motivação de eu voltar aos treinos – disse Neves, em entrevista do GloboEsporte.com.
Um dos momentos mais emocionantes foi a saída do mar. Com cuidado, Neves pegou Elkier no colo e carregou o filho até a Praça Central de Caiobá – local da transição. O atleta fechou o percurso do ciclismo sozinho, mas reencontrou o seu menino na passagem para a corrida. Pronto e preparado na cadeira de rodas, Elkier fez os cinco quilômetros com o pai, enquanto a dupla era ovacionada pelas pessoas presentes na Avenida Atlântica.
– Quando está sozinho a corrida é contra o relógio. Agora não. Desde a largada da natação ele já estava todo empolgado. Ele curte esse barulho, essa bagunça – resumiu Neves.
Para o triatleta paranaense, o suporte da família foi fundamental para conseguir o feito inédito para ele. Além da da dificuldade financeira, uma verdadeira equipe foi formada e já estava de prontidão no litoral desde sábado. Além disso, Neves e Elkier tiveram a colaboração de perto da organização da prova, principalmente no momento da natação. Um monitor acompanhou os dois de perto, a bordo de um caiaque.
– Não ia conseguir nada sem a minha família. Conto sempre com eles. Sem a equipe de apoio, o suporte deles seria impossível. Talvez algumas pessoas me vejam como um exemplo, mas não sou um exemplo sozinho, tem uma logística por trás de quem me apoia.
Durante o momento que estava com Elkier na água e nas ruas de Matinhos, Neves relatou que a sensação foi única, uma emoção nova e que fez ele esquecer qualquer cansaço.
– A dificuldade é para você chegar até a prova, dificuldade financeira. A física não tem razão, a emoção é muito mais forte que a força. É a emoção que carrega tudo – finalizou.
Apesar da dificuldade logística, Neves pretende repetir o gesto em mais competições ou, quem sabe, na edição do ano quem do Sesc Triatlo Caiobá.