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Unidos, torcedores dão apoio financeiro ao Paraná

Fernando Geraldi preside a Associação dos Patronos da Gralha Azul: grupo custeou túnel inflável na Vila e agora pretende ajudar a pagar salários atrasados
Fernando Geraldi preside a Associação dos Patronos da Gralha Azul: grupo custeou túnel inflável na Vila e agora pretende ajudar a pagar salários atrasados

Situação financeira do Tricolor seria ainda pior se grupos de torcedores, motivados só pelo amor ao clube, não estivessem se empenhando nos bastidores pelo menos desde 2013

Falta de apoio de torcedores não é o problema do Paraná. Pelo contrário. Se na Vila Capanema a média de público é baixa (1.830 pagantes) – um dos motivos que levaram o gerente de futebol, Marcus Vinícius, a cobrar a união dos paranistas para o clube não acabar –, nos bastidores a atuação dos tricolores tem sido fundamental para manter o clube de pé.

Atualmente, por exemplo, o local de treinos do time foi viabilizado pelo empresário Luiz Felipe Rauen. Dono de uma empresa de cosméticos, ele se comprometeu a bancar o aluguel do CT por quatro anos, em troca de batizar o espaço de CT Racco. Além disso, ele paga R$ 75 mil mensais ao Paraná para estampar sua marca na camisa.

Na estreia do Paranaense, outra ação de torcedores pôde ser vista na Vila Capanema. A Associação dos Patronos da Gralha Azul (Apaga), fundada em junho de 2014, custeou a implantação de um túnel inflável, pedido antigo dos jogadores para evitar a proximidade com a torcida na entrada e saída de campo. A despesa com o item, que ainda pode servir para a exposição de patrocínios, foi de R$ 6 mil. A Apaga foi criada inicialmente para financiar benfeitorias no clube, como a revitalização da loja oficial na sede da Kennedy, ao custo de R$ 106 mil, prevista para este ano. A grave crise tricolor, porém, deu novo rumo à associação (leia mais nesta página).

Apesar do apoio, Fernando Geraldi, presidente dos Patronos, critica a administração do Paraná. “Infelizmente, o clube gasta mais do que arrecada. A conta chega”, resume ele, que é favorável à redução do patrimônio do clube para tirá-lo do buraco. “Acho viável vender a sede do Boqueirão”, finaliza.

A postura é semelhante à da torcida organizada Fúria Independente, que em 2013 deu início à participação efetiva das arquibancadas no processo de socorro financeiro ao Tricolor. Naquela ocasião, a equipe vinha bem na Série B, mas os salários atrasados começaram a se acumular e o Paraná não tinha patrocinador máster. A Fúria então pagou R$ 50 mil para estampar por dois jogos sua logomarca no uniforme vermelho, azul e branco.

Exemplo seguido pela torcida virtual Paranautas e pelo Doutor Tricolor, que alugaram o espaço na camisa por uma partida cada um. O objetivo era manter o elenco embalado na luta pela volta à elite nacional. No fim, o rendimento em campo não fez jus ao esforço. Apesar da frustração com a não promoção à Série A, a Fúria Independente ainda repassou aos cofres do clube R$ 200 mil como parte das comemorações dos 20 anos da organizada.

Para o presidente da Paranautas, Alan Albino, as medidas de apoio tomadas pelos torcedores agora são pensando apenas no clube, já que os dirigentes perderam todo o crédito com a turma da arquibancada. “Depositamos uma enorme confiança neles e deu no que deu. O Marcus [Vinícius] disse a pior coisa que podia ter falado naquela hora. O nosso amor não vai deixar esse clube acabar. Nunca”, desafiou. Albino vê o investimento em jovens atletas, desde que não cheguem com os direitos econômicos fatiados no profissional, como a saída para a emergência financeira.

Em março de 2014, um grupo gestor liderado pelo empresário Carlos Werner também começou a dar sua contribuição no combate à penúria tricolor. No comando das categorias de base do clube, investiu em estrutura no Ninho da Gralha (o CT dos garotos) e em colocar os salários – que chegaram a oito meses de atraso – em dia. Um oásis de paz. Na Kennedy, no Boqueirão e na Vila Capanema, as dívidas com holerites chegam a sete meses.

Werner nem sabe quanto já empenhou para ajudar a sustentar o clube. “A gente não espera ou tem garantia de que vamos ter algum retorno. Se souber o que gasto, vou chorar. Minha esposa até pergunta, mas eu fujo do assunto”, brincou.

Além do CT, o torcedor apaixonado bancou a reforma da quadra de futsal da sede da Kennedy, do qual o filho faz parte da categoria sub-7, e que ficou pronta neste mês. “O clube tem jeito e passa pelas categorias de base, o futebol. Uma volta à Série A muda nosso rumo”, aponta. Na contramão da maioria, ele não concorda com a venda de patrimônio para reforçar o caixa, mesmo citando que a auditoria entregue à diretoria prova que as sedes cobririam o rombo no caixa e deixariam dinheiro à disposição. Teme, porém, pelas consequências dos atrasos salariais. “As ações trabalhistas são complexas e podem aumentar a cada dia. É uma bola de neve que não tem precisão”, pondera.

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