Castigo na chuva em Piraquara
Não poder nem dar descarga no banheiro quando chove forte, porque o resultado é o refluxo do esgoto pela pia e o ralo do chuveiro. Esse é o tipo de situação que faz parte da rotina de quem mora na Rua Fortaleza, na Vila Macedo, em Piraquara.
Entre a vizinhança é comum ter na memória vários episódios em que a intensidade da chuva afeta o esgoto e o escoamento da água, por conta da danificação das duas redes, e as consequências podem ser percebidas pela proporção dos estragos causados a cada família que, periodicamente, vê comida, roupas, móveis e a própria moradia dissolvidos ou contaminados pela mistura entre água e dejetos que ficam represados.
A servente de obra Maria Aparecida Medeiros da Silva, 54 anos, assiste desesperada à parte nova da casa descer alguns centímetros a cada novo alagamento.
“Eu e meu marido erguemos essa parte da casa bem na altura em que a água chegava, tanto que a laje nova já está com a marca da chuva, mas agora estamos vendo essa parte descer vários centímetros, a ponto das janelas quebrarem por conta do impacto dessa água toda no terreno”, descreve.
As outras duas casas que ficam no terreno de Maria Aparecida, por estarem no nível do chão, seguem sendo invadidas pela água a cada chuva mais forte. “Minha filha perdeu toda a comida na chuvarada da semana passada, porque estava trabalhando quando o terreno começou a encher. E na peça onde mora a família do meu filho, eles perderem roupas e colchão”, lamenta.
Para ela, a origem dos problemas está no fato da tubulação de concreto terminar em frente ao terreno dela. “Eles deveriam terminar a tubulação da rede”, sugere. Quanto aos problemas de refluxo do esgoto, ela não consegue entender, até porque a tarifa de água e esgoto recebida mensalmente varia entre R$ 230 e R$ 250. “Aqui na rua, a maioria tem problemas com o esgoto voltar”, comenta.
Na residência imediatamente ao lado do terreno onde mora a família de Maria Aparecida, os relatos envolvendo chuva e esgoto se repetem com detalhes ainda mais impressionantes. A operadora de caixa Kelly Cristina Darif Marciel, 26 anos, conta que a família não pode usar o banheiro quando chove forte. “Faz um ano e meio que moramos aqui e durante todo esse tempo tivemos que no acostumar a não usar o banheiro em dias de chuva forte, porque se a damos descarga, o esgoto volta pelo ralo do box e a pia”, explica.
Em relação às perdas pelo alagamento, ela explica que improvisou uma solução, enquanto nenhuma obra no local é realizada. “Abro o ralo da cozinha quando começa a chover, assim a água entra pela porta da sala e faz o caminho pela parte debaixo da casa sem acumular e subir”, conta.
Sanepar promete tubulação nova
Procurada pela reportagem, a Companhia de Saneamento do Paraná (Sanepar) foi ao endereço e constatou que tanto a rede de esgoto quanto a galeria pluvial da região foram completamente destruídas por ocupações irregulares na rua. A Sanepar explicou que, ainda na tarde de ontem, os técnicos da Companhia iriam comunicar para a prefeitura de Piraquara que a galeria pluvial também está comprometida.
Da parte da rede de esgoto, a Sanepar deve instalar nos próximos dias uma tubulação nova, com 150 metros de extensão e 150 milímetros de diâmetro para resolver o problema de refluxo do esgoto. Sobre os reparos na rede de coleta de água de responsabilidades da prefeitura de Piraquara, a assessoria de imprensa afirmou que uma equipe da Secretaria de Infraestrutura seria enviada para verificar a situação da Rua Fortaleza, “e a possibilidade de executar reparos emergenciais para resolver o problema”. Mas até o fechamento desta edição a assessoria não deu retorno sobre como e quando ocorrerá o conserto da galeria pluvial na Rua Fortaleza.
Sobre as elevadas contas de água e esgoto da servente de obra Maria Aparecida, a Sanepar explicou que vai fazer uma análise do consumo, já que residem seis pessoas no referido endereço. Também será avaliada a possibilidade de incluir os moradores no programa de Tarifa Social.
Galeria pluvial x rede de esgoto
A responsabilidade sobre redes de esgoto e captação de água é normalmente confundida pela população que procura a prefeitura quando o assunto é saneamento e vice versa. Segundo a Sanepar, dá para diferenciar os problemas de cada setor observando características das duas redes. A rede pluvial de responsabilidade da administração pública municipal serve para o escoamento da água das chuvas e tem aberturas com grades próximas ao meio fio das ruas. Já a rede de esgoto é totalmente fechada e conta com os chamados pontos de visitação que são fechados por tampas de ferro. Enquanto a galeria pluvial conta com manilhas de concreto, a rede de esgoto nunca usa esse material. Em Curitiba e região a tubulação pode ser em cerâmica, PVC, PEAD e materiais plásticos afins.